Mães, Pandemia e Home Office

Lindsey Vieira
4 min readJun 1, 2021
Ilustração por https://www.freepik.com/juniur

Março de 2020, o mês em que boa parte do mundo se voltou para um tema em comum: COVID 19.

Foi aí que descobri como seria administrar trabalho, estudos, casa, família (marido, 2 filhos, gato e cachorro), escola e vários outros pratinhos que não podiam para de rodar — sim, igual ao equilibrista do circo.

A princípio, por obviamente nunca ter vivido uma pandemia antes, imaginei que em 6 ou 8 meses, tudo voltaria ao “normal”. Mal sabia eu, que aquele jogo de rodar pratinhos estava longe de acabar.

Mesmo com meu marido dividindo algumas tarefas, boa parte delas ficava sob a minha responsabilidade. Dentre tantas, a que mais tomava meu tempo, sem dúvidas, era auxiliar meus filhos (de 7 e 10 anos) durante as aulas on-line. Aproveito para deixar registrado, meu reconhecimento aos professores e educadores, que tem trabalhado muito mais durante esse período, ensinar não é para qualquer um!

Tentando Organizar a Rotina

Para que todos os pratinhos se mantivessem rodando, foi mais do que necessário organizar uma rotina geral da casa e seus moradores, senão a loucura e o caos estariam instaurados. Eu, que sempre fui chata com a organização, coloquei em prática meus conhecimentos em trabalho em equipe, e, estabeleci horários e tarefas para cada um, em especial os pequenos.

Com hora de acordar, estudar, fazer tarefas escolares, tomar banho, além de horários fixos para as refeições, a rotina parecia mais fácil. Mas, não vou mentir, nem todos os dias tudo era seguido a risca, e alguns dias pareciam mais pesados do que outros.

Home Office

A pandemia trouxe ainda, mais uma realidade para boa parte das mães: o Home Office.

Confesso que meu marido e eu, já havíamos adotado o Home Office anos antes do início da pandemia. Mas tudo muda quando toda a família está em casa o dia todo. Barulhos, brincadeiras, aula, calls, reuniões se misturam ao longo do dia. E como pedir para duas crianças, se manterem em silêncio absoluto, enquanto você está em uma reunião? Eu até podia pedir silêncio ou um volume mais baixo nas brincadeiras, mas não podia pedir para meus filhos deixarem de ser crianças.

Então cliente, se você está lendo isso, e, em alguma reunião comigo ouviu alguns gritos, sim, eram meus filhos!

No fim das contas, com o passar do tempo, até mesmo as crianças entenderam que ter os pais o dia todo em casa, não significava que poderíamos brincar o tempo todo. Ainda hoje me causa uma certa melancolia pensar no tanto de interação social que eles perderam, mesmo sabendo e reconhecendo o privilégio que é poder estar em casa até hoje!

Sobre Privilégios

Em Novembro de 2020, o número de trabalhadores em Home Office, diminuiu, chegando a 7,3 milhões de pessoas. Uma redução de aproximadamente 260 mil pessoas em relação a Outubro de 2020. Mais do que isso, as pessoas que mais tiveram seu trabalho afetado durante o período de pandemia foram as mulheres, em especial as mães.

Segundo a pesquisa recente feita pela Catho, com mais de 6 mil profissionais, 92% das mulheres que estão em home office, são as responsáveis pelos filhos, que também estão em casa. E, apesar do trabalho dobrado, esse grupo ainda pode se considerar privilegiado, pois fazem parte dos 15,5% que conseguiram transferir o trabalho para as suas casas. Realidade de uma minoria, onde eu me incluo, já que para 71% dos entrevistados, trabalhar no conforto do seu lar, podendo cuidar dos filhos, é algo muito distante do seu dia a dia.

Ainda segundo a pesquisa da Catho, ⅓ das mulheres cuidam dos seus filhos sozinhas. São chefes de família que precisam se desdobrar para conciliar trabalho, filhos, falta de dinheiro e piora da saúde psicológica.

Exaustão!

Março de 2020 a Maio de 2020, mais de 12 meses de cuidados intensos e diários com filhos, casa, alimentação, carreira, beira o esgotamento. Pelo menos é assim que eu me sinto boa parte do tempo, exausta!

Mães, em um replay infinito de equilibrar os pratinhos, estão a beira de um colapso mental. Além de todas as tarefas domésticas e cuidados com os filhos, a pandemia também afetou o trabalho das mulheres que são mães.

Pesquisa realizada pela startup Famivita, com 7500 mulheres do Brasil inteiro. Mães foram 16% mais demitidas, sendo o estado do Amazonas o líder na perda de empregos por mulheres, totalizando 61% delas.

Com tantas preocupações, a sobrecarga materna tornou-se assunto de saúde mental.

Dado do estudo ‘O impacto da pandemia do coronavírus e do isolamento social: Examinando indicadores de comportamento da criança e da parentalidade’ realizado pela Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto (FMRP — USP) com apoio da Fundação Maria Cecilia Souto Vidigal.

E esses dados vem para comprovar, que a quantidade de tarefas e responsabilidades das mulheres e mães, em Home Office, chegou a dobrar, e nem sempre é uma tarefa fácil lidar com tantas questões ao mesmo tempo.

Mostrou o estudo ‘Vivências das mães com seus filhos pré-escolares durante a pandemia de covid-19: contribuições da intervenção precoce para a promoção do desenvolvimento infantil’, realizado pelo departamento de Pediatria da Faculdade de medicina da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto — USP/Laboratório de Pesquisa em prevenção de problemas de desenvolvimento e comportamento da criança (LAPREDES).

A saúde mental, das mulheres e mães, quando pensamos no futuro, exige novos olhares, inclusive de outras mulheres, — não julgarás! — de pessoas de dentro de nossas famílias e de nossos contratantes.

Os pratinhos ainda precisarão continuar rodando, e quando cansadas, precisamos nos lembrar de que não existe maternidade perfeita! Mais do que buscar exaustivamente pela perfeição, acredito que é necessário conhecer os próprios limites.

Falar de maternidade, com ou sem pandemia, é falar de tentativas, erros e acertos, do possível e do real.

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